FONTE: SITE GRANDE PONTO DO JORNALISTA ALEX GURGEL
Franzino, estatura mais baixa do que a média, Mirabô Dantas se agiganta quando canta as belezas da terra potiguar e de sua gente. Precisou alcançar 60 anos para que resolvesse gravar o disco “Mares Potiguares” e lançar o livro “Umas histórias, Outras canções”, tudo numa tacada só. Reconhecido no meio musical nacional, Mirabô tem atuado intensamente na MPB desde menino, quando aprendeu a tocar violão no meio familiar.
Mirabô Dantas é filho de Areia Branca, litoral costeiro das dunas potiguares, terra de figuras ilustres como o ex-ministro Francisco Fausto, o escritor Deífilo Gurgel, José Nicodemos, José Jaime Rolim e tantos outros. Carrega o sobrenome Dantas de seu pai, oriundo de Jardim do Seridó, discípulo e parente do maestro Tonheca Dantas. Casou, fez família e foi morar em Areia Branca. Mirabô aprendeu a ler partitura e tocar violão ao som de Luis Gonzaga e Jackson do Pandeiro quando ouvia o pai tocar trombone.
O menino praieiro cresceu querendo conquistar o mundo com sua musicalidade. O galego Mirabô saiu de Areia Branca, ainda adolescente, para morar na capital, estudando no Atheneu Norte-riograndense e fazendo parte da cena musical natalense junto com Dailôr Varela, Marcos Silva, Nei Leandro de Castro e Odaíres, irmã de Teresinha de Jesus. “Naquela época (por volta de 1968), o mundo vivia um movimento de contestação. Em Natal não era diferente”, ressalta Mirabô.
Mesmo sem televisão em Natal, junto à escassez de informação, esse grupo de jovens rebeldes estava antenado com as idéias de Marshall McLuhan sobre a “aldeia global”, com o nascimento do computador, com o Tropicalismo de Caetano Veloso e com as idéias hippies da contracultura. “A gente fazia shows no Teatro Alberto Maranhão, realizava festivais no America Clube e os poucos ambientes culturais da cidade eram muito agitados”, disse.
Como a grana era curta, Mirabô conta que se juntou aos amigos João Gualberto e Carlos Furtado (cada um com suas respectivas namoradas) para alugar um casarão com dois andares, na esquina da Avenida Prudente de Morais: “como todo mundo morava mal, resolvemos alugar essa casa”. Com três casais morando juntos vivendo de arte, as “línguas faladeiras” da cidade ficaram dizendo que se tratava de uma comunidade hippie. “Não era nada disso. A gente morava bem pagando pouco”.
Logo após a turbulência dos anos sessenta, Mirabô colocou a viola debaixo do braço, mudando-se de mala e cuia para o Rio de Janeiro, onde havia uma efervescência musical vinda do Nordeste, capitaneado por Elba Ramalho, Alceu Valença, Moraes Moreira, Zé Ramalho, Teresinha de Jesus, Geraldo Azevedo, Fagner, Capinan... músicos jovens e desconhecidos, que tentavam firmar carreira.
Vinte anos em terra carioca, Mirabô se firmou como um dos artistas mais respeitados do cenário musical brasileiro, tendo suas composições gravadas por Elba Ramalho, Leci Brandão, Quinteto Violado e Maurício Tapajós. Em parceria com Capinan, as composições tiveram sucesso reconhecido, principalmente, na voz de Terezinha de Jesus, com “Flor do Xaxado” e “Mares Potiguares”.
Durante alguns anos, Mirabô Dantas exerceu o cargo de secretário municipal de Cultura de Areia Branca. Na sua gestão foi criada a Fundação Areia Branca de Cultura para dar início a um conjunto de ações, como a criação de leis de incentivo à cultura local; um Conselho Municipal de Cultura; um espaço onde pudesse ministrar cursos de teatro, música, dança, artes plásticas e qualquer outro tipo de manifestação artística que viesse da população.
Segundo Mirabô, o projeto visava implantar uma política cultural de qualidade para o povo da sua terra. Mas, a idéia esbarrou na falta de apoio político e na ausência de visão dos governantes municipais no trato com a cultura. “As ações eram perfeitamente viáveis para uma cidade com a arrecadação que tem Areia Branca. Porém, não encontrei apoio na própria administração pública que havia me convidado para aquele cargo. Além disso, alguns intelectuais da cidade ainda me chamaram de sonhador”, relata sem rancor.
Mirabô Dantas é filho de Areia Branca, litoral costeiro das dunas potiguares, terra de figuras ilustres como o ex-ministro Francisco Fausto, o escritor Deífilo Gurgel, José Nicodemos, José Jaime Rolim e tantos outros. Carrega o sobrenome Dantas de seu pai, oriundo de Jardim do Seridó, discípulo e parente do maestro Tonheca Dantas. Casou, fez família e foi morar em Areia Branca. Mirabô aprendeu a ler partitura e tocar violão ao som de Luis Gonzaga e Jackson do Pandeiro quando ouvia o pai tocar trombone.
O menino praieiro cresceu querendo conquistar o mundo com sua musicalidade. O galego Mirabô saiu de Areia Branca, ainda adolescente, para morar na capital, estudando no Atheneu Norte-riograndense e fazendo parte da cena musical natalense junto com Dailôr Varela, Marcos Silva, Nei Leandro de Castro e Odaíres, irmã de Teresinha de Jesus. “Naquela época (por volta de 1968), o mundo vivia um movimento de contestação. Em Natal não era diferente”, ressalta Mirabô.
Mesmo sem televisão em Natal, junto à escassez de informação, esse grupo de jovens rebeldes estava antenado com as idéias de Marshall McLuhan sobre a “aldeia global”, com o nascimento do computador, com o Tropicalismo de Caetano Veloso e com as idéias hippies da contracultura. “A gente fazia shows no Teatro Alberto Maranhão, realizava festivais no America Clube e os poucos ambientes culturais da cidade eram muito agitados”, disse.
Como a grana era curta, Mirabô conta que se juntou aos amigos João Gualberto e Carlos Furtado (cada um com suas respectivas namoradas) para alugar um casarão com dois andares, na esquina da Avenida Prudente de Morais: “como todo mundo morava mal, resolvemos alugar essa casa”. Com três casais morando juntos vivendo de arte, as “línguas faladeiras” da cidade ficaram dizendo que se tratava de uma comunidade hippie. “Não era nada disso. A gente morava bem pagando pouco”.
Logo após a turbulência dos anos sessenta, Mirabô colocou a viola debaixo do braço, mudando-se de mala e cuia para o Rio de Janeiro, onde havia uma efervescência musical vinda do Nordeste, capitaneado por Elba Ramalho, Alceu Valença, Moraes Moreira, Zé Ramalho, Teresinha de Jesus, Geraldo Azevedo, Fagner, Capinan... músicos jovens e desconhecidos, que tentavam firmar carreira.
Vinte anos em terra carioca, Mirabô se firmou como um dos artistas mais respeitados do cenário musical brasileiro, tendo suas composições gravadas por Elba Ramalho, Leci Brandão, Quinteto Violado e Maurício Tapajós. Em parceria com Capinan, as composições tiveram sucesso reconhecido, principalmente, na voz de Terezinha de Jesus, com “Flor do Xaxado” e “Mares Potiguares”.
Durante alguns anos, Mirabô Dantas exerceu o cargo de secretário municipal de Cultura de Areia Branca. Na sua gestão foi criada a Fundação Areia Branca de Cultura para dar início a um conjunto de ações, como a criação de leis de incentivo à cultura local; um Conselho Municipal de Cultura; um espaço onde pudesse ministrar cursos de teatro, música, dança, artes plásticas e qualquer outro tipo de manifestação artística que viesse da população.
Segundo Mirabô, o projeto visava implantar uma política cultural de qualidade para o povo da sua terra. Mas, a idéia esbarrou na falta de apoio político e na ausência de visão dos governantes municipais no trato com a cultura. “As ações eram perfeitamente viáveis para uma cidade com a arrecadação que tem Areia Branca. Porém, não encontrei apoio na própria administração pública que havia me convidado para aquele cargo. Além disso, alguns intelectuais da cidade ainda me chamaram de sonhador”, relata sem rancor.
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Livro e músicas como alimentos da alma
Quando saiu de Areia Branca pela derradeira vez, Mirabô já alimentava a idéia de escrever um livro e lançar seu primeiro disco. O CD “Mares Potiguares” é um álbum de canções feitas em parceria com Capinan, José Nêumanne Pinto, Mauricio Tapajós e Auta de Souza. “Gosto muito desse CD, da forma sonora que o produtor Jorge Lima trabalhou. Era aquilo que eu imaginava”.
“Sou apenas um compositor. Confesso”, é assim que Mirabô justifica a carência de um vozeirão capaz de retumbar entre multidões, que acompanha o dedilhar nas cordas ligeiras do violão. O CD “Mares Potiguares” é seu primeiro disco solo, feito da maneira planejada com convidados especiais. O estimulo para gravar foi a vontade de deixar registrado (com a própria voz) suas músicas. “Apesar de não me considerar um grande cantor, não canto tão mal assim”, brinca.
O livro “Umas histórias, Outras canções” (Editora Queima Bucha, Mossoró RN) é um apanhado de lembranças, uma autobiografia onde Mirabô registra a gravação de suas primeiras canções pelos festivais nacionais. Em outro trecho, ele relata os anos da ditadura militar e a censura em Natal, além de vários acontecimentos vivenciados. “Esse livro se refere às lembranças e sentimentos de diferentes períodos de minha vida”, ressalta o cantor.
O final do livro foi dedicado aos versos das músicas gravadas por artistas consagrados da MPB. Tudo muito organizado. O autor também relacionou as canções que fizeram parte de trilhas musicais para o cinema e teatro, no Rio de Janeiro. A produção sonora do lendário filme genuinamente potiguar, “Boi de Prata”, dirigido por Augusto Ribeiro Junior, está descrita no livro em meios a poemas, desenhos, fotografias e anotações de uma época.
Mirabô confessa que se incomoda com algumas pessoas quando cobram o sucesso que ele deveria ter feito junto com Zé Ramalho, Fagner, Elba, Geraldo Azevedo, entre outros... “Eu nunca tive pretensão de ser cantor. Mas, como todos que fazia composições e cantavam, eu também cantava para mostrar minha música”, explica Mirabô, ressaltando que nunca teve intenções de fazer parte da constelação de nordestinos famosos.
Se o livro é uma autobiografia declarada, numa prosa solta onde Mirabô escreve suas memórias, o CD é uma louvação aos mistérios da mulher potiguar, onde reúne o lirismo de todos os mares, rios, dunas, florestas, falésias, caatingas e sertões do Rio Grande, impregnado nas canções. De acordo com Mirabô, o projeto (livro e CD) custou uma “grana preta”, além de vários anos de dedicação exclusiva.
Para a realização do projeto, Mirabô precisou vender a casa que tinha em Areia Branca, fruto da herança paterna. Com o dinheiro da propriedade, comprou um “carro usado”. O restante foi para a realização do projeto e para sua própria sobrevivência. “Hoje, moro na casa da minha irmã aqui em Natal, mas já estou terminando de construir uma casa em Pium”, revela.
Figurinha fácil nas baladas culturais, Mirabô continua fazendo shows ou envolvido no núcleo musical potiguar. Atualmente, Mirabô integra a equipe do Centro de Promoções e Eventos da Fundação José Augusto, na “câmara setorial de música”, mas conhece as limitações que tem para trabalhar e toda burocracia que envolve o setor público, engessando os projetos.
Numa conversa despretensiosa, Mirabô admite querer gravar outro CD “porque a aceitação das músicas foi muito boa”. Alheio a fama, esse galego areia-branquense curte a vida fazendo o que mais gosta, como se cantar os mares potiguares fosse sua missão de vida e revela: “ Não quero ser famoso. Faço música no ritmo que a letra pede. Minha inspiração? A vida”.
Livro e músicas como alimentos da alma
Quando saiu de Areia Branca pela derradeira vez, Mirabô já alimentava a idéia de escrever um livro e lançar seu primeiro disco. O CD “Mares Potiguares” é um álbum de canções feitas em parceria com Capinan, José Nêumanne Pinto, Mauricio Tapajós e Auta de Souza. “Gosto muito desse CD, da forma sonora que o produtor Jorge Lima trabalhou. Era aquilo que eu imaginava”.
“Sou apenas um compositor. Confesso”, é assim que Mirabô justifica a carência de um vozeirão capaz de retumbar entre multidões, que acompanha o dedilhar nas cordas ligeiras do violão. O CD “Mares Potiguares” é seu primeiro disco solo, feito da maneira planejada com convidados especiais. O estimulo para gravar foi a vontade de deixar registrado (com a própria voz) suas músicas. “Apesar de não me considerar um grande cantor, não canto tão mal assim”, brinca.
O livro “Umas histórias, Outras canções” (Editora Queima Bucha, Mossoró RN) é um apanhado de lembranças, uma autobiografia onde Mirabô registra a gravação de suas primeiras canções pelos festivais nacionais. Em outro trecho, ele relata os anos da ditadura militar e a censura em Natal, além de vários acontecimentos vivenciados. “Esse livro se refere às lembranças e sentimentos de diferentes períodos de minha vida”, ressalta o cantor.
O final do livro foi dedicado aos versos das músicas gravadas por artistas consagrados da MPB. Tudo muito organizado. O autor também relacionou as canções que fizeram parte de trilhas musicais para o cinema e teatro, no Rio de Janeiro. A produção sonora do lendário filme genuinamente potiguar, “Boi de Prata”, dirigido por Augusto Ribeiro Junior, está descrita no livro em meios a poemas, desenhos, fotografias e anotações de uma época.
Mirabô confessa que se incomoda com algumas pessoas quando cobram o sucesso que ele deveria ter feito junto com Zé Ramalho, Fagner, Elba, Geraldo Azevedo, entre outros... “Eu nunca tive pretensão de ser cantor. Mas, como todos que fazia composições e cantavam, eu também cantava para mostrar minha música”, explica Mirabô, ressaltando que nunca teve intenções de fazer parte da constelação de nordestinos famosos.
Se o livro é uma autobiografia declarada, numa prosa solta onde Mirabô escreve suas memórias, o CD é uma louvação aos mistérios da mulher potiguar, onde reúne o lirismo de todos os mares, rios, dunas, florestas, falésias, caatingas e sertões do Rio Grande, impregnado nas canções. De acordo com Mirabô, o projeto (livro e CD) custou uma “grana preta”, além de vários anos de dedicação exclusiva.
Para a realização do projeto, Mirabô precisou vender a casa que tinha em Areia Branca, fruto da herança paterna. Com o dinheiro da propriedade, comprou um “carro usado”. O restante foi para a realização do projeto e para sua própria sobrevivência. “Hoje, moro na casa da minha irmã aqui em Natal, mas já estou terminando de construir uma casa em Pium”, revela.
Figurinha fácil nas baladas culturais, Mirabô continua fazendo shows ou envolvido no núcleo musical potiguar. Atualmente, Mirabô integra a equipe do Centro de Promoções e Eventos da Fundação José Augusto, na “câmara setorial de música”, mas conhece as limitações que tem para trabalhar e toda burocracia que envolve o setor público, engessando os projetos.
Numa conversa despretensiosa, Mirabô admite querer gravar outro CD “porque a aceitação das músicas foi muito boa”. Alheio a fama, esse galego areia-branquense curte a vida fazendo o que mais gosta, como se cantar os mares potiguares fosse sua missão de vida e revela: “ Não quero ser famoso. Faço música no ritmo que a letra pede. Minha inspiração? A vida”.
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